Fernando Varela

O poeta  nada mais é do que o escravo das suas próprias palavras

Textos

MEMÓRIAS DE UM SILÊNCIO
Fiz da minha vida um horizonte verticalizado. Pelas janelas eu enxergava apenas o silêncio da minha alma me pedindo mais um grito vindo de dentro de mim.
Fiz da minha vida uma espera que nunca chegou. Viajei vidas e sonhos e não encontrei nada. E fiz do meu nada uma esperança de vida.
Fiz das minhas idas um rumo totalmente sem rumo e fiz das minhas voltas uma volta sem dor.
Fiz o meu coração se repartir em pedaços para a compreensão das pessoas que amo. Se o bolo foi mal ou bem dividido a culpa não me pertence.
Fiz da minha morte uma brincadeira com a vida. Fiz das minhas lembranças uma forma eterna de me lembrar dos tempos de criança que nunca se esqueceu desse tempo.
Fiz da minha insônia a maneira mais branda de conversar comigo mesmo e sem interrupções.
Fiz das minhas verdades as mentiras que me foram contadas e que nunca acreditei.
Já não creio naquelas janelas, mas o meu horizonte continua verticalizado.
Eu fiz da minha surdez uma breve cegueira para que eu não pudesse enxergar. E fiz dessa mesma breve cegueira o encanto dos meus olhos para que eu novamente ouvisse.
Eu fiz da minha angústia uma interpretação de ter sido comparsa da morte que contempla a vida.
Essa mesma vida tão corrida, que faz as memórias do meu silêncio, silenciar.

Fernando Varela
Enviado por Fernando Varela em 30/03/2019
Alterado em 26/04/2019


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