REZA A LENDA
Reza a lenda que a lenda nunca aprendeu a rezar. Eu rezo sem ser lenda e me abstenho do oráculo. O mais profundo de mim é a minha existência por onde por aqui vago, me reencontrando sempre comigo mesmo. Eu não sinto minutos, não sinto horas, mas eu sinto uma enorme vontade de viver. Viver a intensidade da vida, como se a vida não coubesse dentro do meu bolso. E jamais caberá porque o meu bolso é raso, o oposto da vida.
Reza a lenda que os antigos lendários nunca souberam exatamente o que significa a palavra lenda. Assim, na sua enorme curiosidade compuseram músicas, escreveram poesias e se deliciaram, e eu delicio a vida sem lenda e sem espaços para a tristeza. A vida é um pequeno fragmento de felicidade embutida em um outro pequeno fragmento de realizações que amparamos em nossas mãos como se alimento fosse. A vida não é um espaço. É todo o espaço. É toda a conjugação de verbos em todos os seus tempos. A morte é uma breve fragrância que nos imponhe o cheiro da vida. Obrigado, vida, pela sua lenda que nunca soube rezar mas que tanto me ensinou.
Fernando Varela
Enviado por Fernando Varela em 13/03/2018
Alterado em 17/08/2019 |